O
PRESENTE E O FUTURO DA PESQUISA EM SÍNDROME DE DOWN
Ruy do Amaral Pupo Filho
Médico pediatra e sanitarista
Em outubro de 1998 esteve no Brasil o Dr. Alberto Costa, cientista e
pesquisador do Jackson Laboratory, dos EUA. A convite do Dr. Zan Mustacchi
do CEPEC de São Paulo, o Dr. Costa fez palestras na capital e em Santos-SP.
O Dr. Alberto Costa é um jovem médico neurofisiologista brasileiro formado
no Rio de Janeiro e que reside ha 10 anos nos EUA. Ha 3 anos, quando nasceu
sua primeira filha, com a síndrome de Down (SD), o Dr. Costa mudou o foco
de suas pesquisas em neurofisiologia para a área da
SD. Em apenas 2 anos de trabalho ele se transformou em "um dos mais promissores
e brilhantes cientistas de sua geração", nas palavras do Prof. Charles
Epstein, eminente geneticista americano e também pesquisador da SD. Por
seu trabalho ele já recebeu um importante prêmio do National Down Syndrome
Society, entidade americana que financia pesquisas em SD.
O Jackson Laboratory, onde ele trabalha, é considerado o maior centro
de pesquisas genéticas de camundongos do mundo e é o local onde foi desenvolvido
um camundongo trisômico, que passou a servir de modelo animal para o estudo
da SD. O entendimento de muitas doenças avança
quando é possível estuda-las em animais, o que até ha poucos anos não
era possível na SD. A pesquisa científica exige um grande número de animais
para estudo e o que havia disponível eram alguns primatas que apresentam
trissomias naturais. Mas as dificuldades na sua reprodução, devido entre
outros fatores a seu longo tempo de gestação, impediam na pratica a realização
das pesquisas.
Apesar de trissomias não ocorrerem naturalmente em roedores, é possível
produzi-las em qualquer cromossomo do camundongo, através de um esquema
apropriado de cruzamentos de linhas especiais. Camundongos com trissomia
do cromossomo 16, que possui grande semelhança com o 21 humano, foram
usados por quase duas décadas como modelos para a SD.
Só que o camundongo trissômico morria logo após o parto. A equipe da
Dra. Muriel Davisson do Jackson Laboratory conseguiu criar um camundongo
que possui uma trissomia parcial deste cromossomo 6, compatível com a
vida adulta. O camundongo chamado TS65Dn esta sendo agora amplamente utilizado
nestes estudos.
Em 2 anos de trabalho no Jackson Laboratory a pesquisa realizada pelo
Dr. Costa evoluiu para um total de 5 linhas, nas quais trabalha atualmente.
São elas:
1. Investigação básica da neurobiologia do TS65Dn
2. Investigação dos fenótipos com relevância clínica potencial
3. Manipulação genética
4. Manipulação farmacológica
5. Fertilização in vitro do TS65Dn
As linhas de pesquisa 1 e 2, segundo o Dr. Costa, destinam-se a definir
se de fato o TS65Dn é um bom modelo animal da SD, ou seja, se realmente
ha uma correlação entre os acontecimentos nesses camundongos e no homem.
Sabe-se que na SD as estruturas cerebrais são menores e que ha uma diminuição
do número de neurônios. Nestes estudos ele esta interessado na neurotransmissão
e na plasticidade em estruturas cerebrais críticas como córtex frontal,
cerebelo, amígdala e núcleos amigdalianos e hipocampo (estrutura relacionada
com a memória de curta duração).
Ele esta particularmente interessado em estudar estruturas chamadas
dendritos, responsáveis pela conexão entre os neurônios e relacionadas
com a memória. Neles ocorrem 90% das fungues excitatárias neuroniais.
Suas primeiras conclusões são de que o camundongo TS65Dn é um bom modelo
animal para esta questão.
Em outra área das mesmas linhas 1 e 2, o Dr. Costa esta estudando uma
função elétrica cerebral chamada "potenciação de longa duração" (LTP,
em inglês) e varias formas de atividade elétrica sincronizada no sistema
nervoso central. Se o camundongo for um bom modelo, a eficácia de medicamentos
potencialmente poderá ser avaliada através da modificação dessas formas
de atividade elétrica.
Na linha de pesquisa 3, da manipulação genética, o Dr. Costa estuda quais
os efeitos causados pela introdução ou retirada de determinados genes
do organismo do camundongo. Sempre correlacionando as alterações provocadas
com as conseqüências sobre o organismo do animal.
A linha de pesquisa 4, de manipulação farmacológica, é com certeza a
de maior interesse para os pais. Trata-se aqui de pesquisar medicamentos
que sejam eficazes no tratamento dos efeitos da SD. O Dr. Costa pesquisa
atualmente 8 tipos de drogas, de diferentes famílias farmacológicas. Dentre
elas existem 2 em particular, nas quais o Dr. Costa deposita mais esperanças.
Entretanto os estudos ainda são iniciais, e até que sejam comprovados
seus efeitos e liberadas para uso humano um bom tempo ainda vai decorrer.
Até lá, segundo o Dr. Costa, os nomes das drogas não podem ser liberados,
por imposição dos laboratórios farmacêuticos produtores das mesmas.
Na linha de pesquisa 5, de fertilização in vitro, Dr. Costa pesquisa
maneiras de acelerar a reprodução dos camundongos trissômicos, já que
semelhança das pessoas com trissomia do 21, eles tem problemas de fertilidade.
Nas fêmeas do camundongo a taxa de fertilidade é de cerca de 50% enquanto
que nos machos a taxa de fertilidade é quase nula. Como é necessário um
grande número de camundongos para a pesquisa e sua produção é cara o objetivo
desta linha é baratear o custo e facilitar a realização das demais pesquisas.
Com certeza trará também maiores conhecimentos sobre a função reprodutiva
das pessoas com SD.
O balanço que se pode fazer a partir dos depoimentos do Dr. Costa é de
que nos últimos 5 anos avançou-se muito e rápido na pesquisa em SD. Grandes
vitórias já foram obtidas, como a criação do TS65Dn, chave para os avanços
posteriores. Embora os primeiros resultados já estejam surgindo, os grandes
avanços práticos ainda vão demorar um pouco. Seu trabalho também depende
de outros, pois é realizado em equipe e em cooperação com outros cientistas
de outros centros de pesquisa.
Mas o Dr. Alberto Costa, por sua condição única de médico, cientista,
pesquisador e pai, reúne todas as condições para desempenhar um papel
fundamental na obtenção de uma terapia medicamentosa eficaz para a SD.
Sabemos que normalmente as pesquisas são lentas, mas o tempo do Dr. Costa
é diferente, é o tempo de um pai. A responsabilidade que pesa sobre seus
ombros é enorme e a expectativa de todos e dele próprio, pode ser esmagadora.
Esperamos que ele possa ter toda a inspiração, força, persistência, paz
de espirito e serenidade necessárias para essa tarefa. A vitória será
dele, de sua filha e de toda a Humanidade.
(texto revisto pelo Dr. Alberto Costa e pelo Dr. Zan Mustacchi)
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Manifestações dermatológicas na síndrome
de Down
Mutti, Ângela
A pele nas pessoas com síndrome de Down é normal ao nascimento e no recém-nascido
é macia e aveludada. Entre as idades de 5 a 10 anos começa a ficar seca
e monos elástica e, aos 15 anos, mais de 70% mostra xerose, ou seja, descamação
generalizada, de grau médio a moderado. Placas de liquenificação, que
são lesões grosseiras formadas pela pele endurecida pelo ressecamento,
estão presentes em 30% de quem tem abaixo de 10 anos e em 80% dos acima
de 20 anos. As placas assemelham-se às da doença Liquen simplex e ocorrem,
mais comumente, na partesuperior dos braços, pulsos, face anterior de
coxas, face posterior de tornozelos e do pescoço e são provavelmente manifestações
de Dermatite Atópica, uma espécie de alergia que atinge pele, nariz (causando
renite) e pulmão (asma alérgica) com incidência muito freqüente na síndrome.
Freqüentemente está presente uma erupção pápulo-folicular crônica das
regiões pré-esternal e inter-escapular, sobretudo em homens adultos.
Os cabelos podem ser normais mas em geral são finos e hipopigmentados.
A prevalência de Alopecia areata (pelada em placas) é alta e tende a ser
extensiva e persistente.
Os dentes são hipoplásicos e demoram a irromper. São freqüentes lábios
finos e fissuras que aumentam a prevalência e a severidade com a idade.
A língua é escrotal na maioria dos casos.
Achados de dermatoglifos inclui uma prega única de flexão do 5 dedo, prega
palmar símia e aumentada incidência de curvas ulnares nos dedos.
As doenças dermatológicas que ocorrem com mais freqüencia na SD que nas
pessoas normais, as mais comuns são a Elastose Perfurante Serpiginosa
(Elastose perforans) e oVitiligo.
Elastose Perfurante Serpiginosa - Doença onde ocorrem
alterações das fibras elásticas que atuam como material estranho ao organismo
e que são eliminadas através da pele havendo também alteração das fibras
colágenas. A lesão elementar é pápula umbilicada, eritematosaou cor da
pele, com rolha córnea central. Confluem e formam lesões circulares. Na
evolução regridem centralmente resultando lesões residuais e, ao longo
de meses e anos, resultam em cicatrizes atróficas e claras. Ocorrem preferencialmente
em região do pescoço e extremidades superiores. Na maioria são localizadas
mas as formas disseminadas estão mais associadas com a SD e são mais freqüentes
em homens.
O diagnóstico é clínico e histopatológico, devendo-se fazer deferenciação
com outras afecções perfurantes.
Vitiligo - Formação de manchas brancas, marfínicas, de
limites nítidos, geralmente com bordas hiperpigmentadas, com formas e
extensão variáveis, não pruriginosas. Há tendência à distribuição simétrica
e são raras em palmas e plantas. É doença adquirida que pode surgir após
traumas ou quimaduras de sol. A causa ainda não está esclarecida mas,
das três teorias para explicar a destruição dos melanócitos (as céculas
de cor), a imunológica admite que o vitiligo é doença autoimune pela formação
de anticorpos antimelanócitos pois assinala a ssociação com outras doenças
imunológicas como Tireoide de Hashimoto, Diabetes mellitus, Anemia perniciosa,
Lupus Eritematoso Sistêmico, Esclerose Eistêmica, Alopecia areata, insuficiência
idiopática das adrenais, Miastenia gravis e síndrome de Down
Pode atingir as células pigmentares dos olhos, sendo que 7% podem apresentar
uveítes e irites, eventualmente lesão na mácula.
De um modo geral os pacientes com SD são mais propensos a apresentar infecções
de pele, Queilite angular (fissuras nos cantos dos lábios), Blefarite
crônica (descamação das pálpebras) e descarga nasal purulenta. Há uma
grande prevalência de Tinea pedis (micose) como resultado de contaminação
comunitária.
A circulação periférica é pobre então Acrocianose (placas roxas nas pernas)
é freqüente e Livedo reicular (pele com aspecto marmóreo) é normalmente
visível nas coxas, nádegas e tronco.
Não há evidência de que a prevalência de outras dermatoses é significantemente
maior em indivíduos com SD comparado a indivíduos com retardo mental de
outras causas, mas vale realçar que, todos os pacientes com retardo mental
sofrem incidência aumentada de ectoparasitoses (Escabiose, larva migrans,
Pediculoses, etc.), devido à deficiência de resposta neurológica de defesa,
como o prurido. Observa-se ainda que esses pacientes podem, por suas deficiências
imunológicas, apresentar formas anômalas destas e de outras afecções.
O cuidado, portanto, com a pele dos pacientes com SD, deve ser redobrada,
usando-se desde a infância sabonetes glicerinados ou líquidos, hidratantes
constantemente após o banho e uma revisão diária de todo o corpo, em especial
os pés, à procura de qualquer lesão fora do habitual. É importante proteger
os lábios com fotoprotetores em bastão ou manteiga de cacau para evitar
fissuras assim como o tratamento imediato de qualquer lesão causada por
traumatismo para que não se instale um processo infeccioso.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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1960; 35:347-52.
- Carter DM, Jegosothy BV. Alopecia areata and Down's syndrome. Arch
Dermatol, 1976;112:1397-9
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Br Med J, 1975;i:191-2
- Finn AO et al. A singular dermatosis of mongols. Arch Dermatol,
1978; 114:1493-4
- Harper J - Cap. 09: generics and Genodermatoses. In: Champion RH,
Burton JL & Ebling, FJG - 5th edition, Blackwell Scientific Publications
- Oxford - Vol. 4: 2859-61 e 69, 1994.
- Kersting DW, Rapaport IF. A clinico-patologic studu of the skin in
mongolism. Arch Dermatol, 1958; 77:319-23
- Mutti AEC, Barbosa Jr AA. Localized hyperkeratotic scabies in a pacient
with Down sundrome simulating verrucous carcinoma. An Bras Dermatol,
1998; 73:337-9
- Rapaport I. Oligophrenie mongoliene et ectodermatoses congenitales.
Ann Dermatol Syphiligr, 1960; 87:263-7
- Sampaio, Rivitti. Dermatologia. 1998 - 1ª edição - Ed. artes Médicas
- São paulo - Brasil.
- Urban CD. Eruptive syringomas in Down's syndrome. Arch Dermatol,
1981; 117:374-5
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II Simpósio internacional sobre aspectos biomédicos
e psicoeducativos na Síndrome de Down
Relatório
Cidade do México, 23 a 25 de abril de 1997
"Compartilhando um compromisso mundial"
Objetivo do evento:
O simpósio foi organizado pela Fundação John Langdon Down, da Cidade do
México, e teve como objetivo abrir um foro de debates para que profissionais
das diversas áreas afins, bem como pais, familiares e pessoas com síndrome
de Down tivessem oportunidade de atualizar-se, trocar experiências, estreitando
vínculos e permitindo conhecer a realidade de outros países quanto a inclusão,
independência, etc.
Desenvolvimento
do Simpósio:
Após a cerimônia de abertura, houve uma apresentação de boas vindas aos
participantes da Presidente do Comitê de Organização da Federação Internacional
de SD, Josephine Mills (Canadá), que enfatizou a importância da participação
de todo o mundo num esforço conjunto em prol das pessoas com SD.
Dr. Siegfried Pueschel (EUA) discorreu em conferência sobre o mérito da
pessoa com SD, enfatizando sua afetuosidade, sinceridade, espontaneidade
e autenticidade. Lembrou que todos temos de lutar pelo respeito e os direitos
das pessoas com SD.
Dr. William Cohen (EUA) abordou os cuidados intensivos em SD. Sugeriu
algumas atualizações do protocolo de exames, como repetição de RX de coluna
aos 18 anos, para confirmar a inexistência ou não de instabilidade atlanto-axial.
Sugere que os adultos sigam fazendo exames periódicos oftalmológico, auditivo,
de tireóide, clínico e cardiológico (com ECG).
Dr. Ira T. Lott (EUA) falou sobre o desenvolvimento neurológico na SD.
Mostrou que o desenvolvimento neuronal (aumento do número de sinapses)
é mais lento na SD e apresentou evidências recentes que comprovam que
o metabolismo cerebral é também mais lento na SD. Abordou a evolução das
convulsões epilépticas nos bebês e crianças com SD e expressou sua opinião
pessoal (não comprovada cientificamente) de que a doença de Alzheimer
ocorra mais possivelmente em pessoas com SD que não desenvolvam atividade
intelectual.
Dr. Henryk M. Wisniewski (EUA) falou sobre a doença de Alzheimer. Disse
"Como tratar e prevenir a doença de Alzheimer? Esta é uma pergunta fácil
de responder: NÓS NÃO SABEMOS. Outras respostas são opiniões, especulações,
esperanças e sonhos." Sugeriu o endereço de uma homepage sobre a doença
de Alzheimer, onde se podem buscar sempre os mais recentes avanços: http://www.alz.org/.
Numa mesa redonda, o Dr. Pueschel falou para médicos clínicos sobre o
momento da notícia e como dá-la aos pais; o Dr. Jorge García (México)
defendeu a simplicidade e as vantagens de se optar por uma endoscopia
laparoscópica a uma cirurgia convencional na correção de hérnias de hiato
com refluxo gastro-esofágico; o Dr. Alfredo Viscaino (México) falou sobre
as correções cirúrgicas das malformações cardíacas e defendeu que se faça
um ecocardiograma em TODO bebê com SD; o Dr. Wisniewski discorreu uma
vez mais, de uma forma mais técnica para um público médico, sobre a doença
de Alzheimer, mas sem acrecentar novidades.
Uma mesa redonda com Penny Robertson (Indonésia), Frank Murphy (EUA),
Mariano Díaz Guttierez e Francisco Teutli Guillén (ambos do México) abordou
o processo de integração das crianças com SD à escola regular, e função
que tem a escola de mudar atitudes e sensibilidades sociais, e a integração
das pessoas com SD ao mundo do trabalho. Viu-se que existem diferentes
variantes no processo de integração. Dependendo do nível de comprometimento,
os espaços para a integração são limitados. A integração é um assunto
bastante controvertido mas qualquer pessoa pode ser uma peça deste instigante
quebra-cabeça.
Uma outra mesa redonda reuniu Jean Edwards (EUA), Arturo Pérez Tejada
(México) e Elen Inles (México), que falaram da sexualidade na SD, seguindo
a idéia de que sexualidade é mais que genitalidade e deve ser construída
desde cedo. Ainda na mesma mesa, Araceli Montiel Oviedo falou sobre o
processo cognitivo da criança com SD e o Dr. William Cohen (EUA) desenvolveu
o tema "Colaborando Com os Médicos", onde falou da formação médica, de
como os médicos são e do que eles necessitam; enfatizou que os mesmos
devem ter conhecimento, terem humildade perante os familiares (que as
vezes sabem mais do que eles) e serem capazes de oferecer suporte e conforto.
Dr. David Patterson (EUA) falou sobre os avanços genéticos na investigação
da SD. Discorreu sobre os genes já mapeados no cromossoma 21, sendo os
principais os seguintes: Alzheimer-APP, retardo mental-CBS, imunodeficiência-CD18,
leucemia-AML1, ALS-SOD1, epilepsia-CISTATIN B, problemas esqueléticos-ETS2,
problemas cardiovasculares-RFT e CBS, surdez sensorial-GART. Abordou ainda
o trabalho que vem sendo feito as esperanças de que, num futuro talvez
próximo, se possa vir a intervir nestes genes de forma química ou através
de engenharia genética. Dr. Horace Mann (EUA) falou dos avanços médicos
que se fizeram nos últimos 30 anos no tratamento da SD e dos desafios
que ainda se tem pela frente, isto é, "muitos Everestes a escalar".
Dr. Robert Schalock (EUA) abordou a questão da qualidade de vida das pessoas
com SD, falando sobre sexualidade, maternidade, inclusão profissional
e independência. Apresentou casos de adultos jovens com SD morando sozinhos
e trabalhando na comunidade, pessoas felizes.
Um animado painel composto por adolescentes e adultos jovens com SD foi
um ponto alto do Simpósio. Foi coordenado de uma maneira alegre, espontânea
e espirituosa pela simpática fisioterapeuta da Indonésia, Penny Robertson,
que também é Secretária do Comitê de Organização da FISD. Um dos participantes
foi sua filha, além dos mexicanos Javier Pliego, Gabriel Alcalá Vásquez
e Paula Ibáñez Novella, que deram depoimentos e responderam a uma entrevista
ao vivo, além de responderem perguntas da audiência. Mas, antes, se pôde
assistir a um vídeo com uma mensagem de Andrea Friedman, jovem norteamericana
com SD, que é atriz de teatro e televisão, estudante universitária na
Universidade de Santa Mônica (Califórnia), ganha seu dinheiro, dirige
seu próprio carro diariamente de Los Angeles até a Universidade, passeia
com seus amigos e dá carona para os que não têm carro, e está planejando
morar só em seu próprio apartamento. Foi um momento realmente emocionante.
Uma mesa redonda contou com a presença da Profa. Katina Yamamoto (México),
falando sobre intervenção precoce em crianças com SD; Dra. María Paez
Berruecos (México), psicolingüista, falando sobre estratégias para a aquisição
da linguagem; Dr. Jean Rondal (Bélgica), falando sobre o desenvolvimento
da linguagem; e Profa. Leticia Valdespino Echauri (México), falando sobre
estratégias educativas para crianças com SD.
Ao final, o Dr. Pueschel fez uma conferência sobre ética em SD, abordando
basicamente a questão do aborto de fetos com SD, quando exames pré-natais
comprovam inequivocamente que o bebê terá SD. Evidentemente, condenou
o "aborto terapêutico", classificando-o de homicídio, já que não há risco
de vida para a mãe nem para o feto. Como é efetuado APENAS POR TER O FETO
SD, é discriminatório e preconceituoso e, portanto, anticonstitucional
(ilegal) e contra os direitos humanos mais elementares. Homenageou ainda
o homem que, para ele, era um exemplo de ética, um grande médico, uma
grande pessoa e um grande amigo, o Dr. Jérôme Lejeune, falecido em 1994.
Ao final, houve uma homenagem à Profa. Sylvia Escamilla, fundadora e Presidente
da Fundação John Langdon Down, que há 25 anos desenvolve suas atividades
no atendimento de crianças com SD na cidade do México, com grande alcance
e destaque sociais. O Simpósio foi encerrado em plenário, com uma mesa
composta por todos os conferencistas estrangeiros convidados e autoridades.
Conclusões:
Ficamos impressionados pela qualidade da organização do Simpósio, com
tradução simultânea constante, auditórios amplos, confortáveis e com ar
condicionado eficiente, e inclusive com almoço, servido à francesa, incluído
no preço da inscrição, para as 800 pessoas participantes do evento!
A verdade é que o Simpósio não apresentou nenhuma grande novidade. Por
outro lado, alcançou o objetivo de integrar as pessoas que trabalham com
SD no momento. Foi importante a presença da Federação Brasileira das Associações
de Síndrome de Down no encontro, pois possibilitou contatos da Presidente
de nossa Federação, a Profa. Maria Madalena Nobre Mendonça, e do Dr. Athos
Schmidt, membro consultor técnico da Federação, com vários profissionais
e com diversas pessoas que estão articulando a estruturação da Federação
Internacional de Síndrome de Down (FISD), entre elas a Presidente do Comitê
de Organização da FISD, Josephine Mills.
A presença do Brasil no movimento mundial para a reunião dos esforços
conjuntos é etapa fundamental do momento atual do movimento de articulação
de estratégias em prol das pessoas com SD, que deverá se efetivar em Madri,
no mês de outubro, no Congresso Mundial, onde deverá ocorrer a aprovação
dos estatutos definitivos e a eleição da diretoria da FISD pelos países
representados.
Houve também contato com outros representantes de associações latino-americanas,
onde ocorrem articulações com vistas a escolher um representante latino-americano
para representar a América Latina na FISD. Isto deverá ocorrer durante
o nosso II Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional Sobre Síndrome
de Down, em junho, em Brasília.
Também pudemos divulgar um pouco mais, internacionalmente, o nosso Congresso,
a realizar-se em junho deste ano, em Brasília. Josephine Mills deu-nos
o endereço da homepage de seu serviço, em Vancouvert (Canadá), onde ela
ficou de divulgar o nosso Congresso. O endereço é: http//fas.sfu.ca/oh/kin/ds/main.html
. Dr. Pueschel confirmou sua presença. Enfim, tem-se problemas semelhantes
e objetivos comuns em todos os países. Trata-se de um momento histórico
para a articulação de esforços em benefício das pessoas com SD em todo
o mundo e é importante que estejamos juntos. E, com nossa participação
no Simpósio do México, nos incluímos mais. Estamos dentro e não perderemos
o trem. Brasil presente.
Cidade do México, 26 de abril de 1997.
Athos Pereira Schmidt
Médico psiquiatra, Psicanalista Infantil
Membro Consultor Técnico da FBASD
Maria Madalena Nobre Mendonça
Professora
Presidente da FBASD
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Conferência
Internacional sobre cromossomo 21
e pesquisa médica em Síndrome de Down
Relatório
Com a presença de cerca de 120 especialistas de 20 países realizou-se
em Barcelona nos dias 14 e 15 de março de 1997 a Conferência Internacional
sobre cromossomo 21 e pesquisa médica em síndrome de Down (SD). O evento
foi promovido pela Fundação Catalana de SD, uma organização criada e dirigida
por pais. A cerimônia de abertura foi presidida pelo Ministro da Saúde
do Governo Catalão, Dr. Eduard Rius.
Entre os cientistas presentes estavam o Dr. Charles Epstein, médico geneticista
americano e um dos maiores pesquisadores em SD; o Dr. Jésus Florez, psicólogo
espanhol especializado em farmacologia e também pai de um menino com SD;
e o Dr. Ira Lott, pediatra e neurologista americano. Do Brasil, o Dr.
Zan Mustacchi, geneticista e um dos maiores especialistas em SD no país;
o Dr. Dennis Burns, pediatra de Brasília, o Dr. Ruy Pupo Filho, pediatra
de Santos-SP, e a psicóloga Rosana Tristão, de Brasília. O Dr. Zan apresentou
um trabalho sobre a incidência de colelitíase ( cálculos de vesícula biliar)
na SD, e a psicóloga Rosana também apresentou um trabalho em poster relacionado
a SD.
O grande quebra-cabeças representando o completo conhecimento da SD ainda
está sendo montado. Do ano passado para cá muitas peças novas foram colocadas.
Já se conhecem cerca de 76 gens ( no ano passado eram 50) dos quase 1000
que compõem o cromossomo 21.
Importantes progressos foram e estão sendo feitos, com pesquisas sendo
desenvolvidas em vários países, notadamente nos EUA, na Espanha, Inglaterra
e França entre outros.
O maior avanço foi que agora existe um modelo animal que permite estudar
com detalhes as ocorrências ligadas a SD. Trata-se de um camundongo trissômico
( chamado de MMU-16), que foi produzido em laboratório pelo Prof. Epstein.
O cromossomo 16 deste animal é semelhante ao 21 humano. No ano passado,
este camundongo trissômico vivia apenas até o final da gestação, o que
limitava muito os estudos.
Agora conseguiu-se uma variante deste camundongo ( chamado de TS108cje)
que vive até a idade adulta. Estes são chamados de transgênicos. Os estudos
desenvolvidos pelo Prof. Epstein nos EUA estão sendo reproduzidos e aprofundados
pelos pesquisadores espanhóis em Barcelona e em outros centros europeus.
Através da manipulação genética destes camundongos pode-se estudar o efeito
de cada um dos gens mapeados no organismo do animal.
Considera-se que agora os estudiosos já dispõem de todas as ferramentas
necessárias para estudar e entender os eventos relacionados a SD. Entretanto
será necessário um período de mais alguns anos para que surjam as respostas
definitivas que pais e profissionais esperam, traduzidas por medicamentos
eficazes no tratamento dos maiores comprometimentos da SD. Isto deverá
ocorrer logo após a virada do ano 2.000.
A palestra de abertura foi feita pelo Prof. Epstein, que falando sobre
a biologia da SD destacou os progressos alcançados nos últimos anos pelas
pessoas com SD, e das dificuldades e desafios que ainda persistem, principalmente
o comprometimento intelectual e a doença de Alzheimer. Analisou as formas
de estudar a SD disponíveis:
- Observação clínica e laboratorial das pessoas com SD
- Análises histológicas e patológicas pré e pós natais
- Estudo em laboratório de tecidos e células elucidação da estrutura
gênica do cromossomo 21
( o mapeamento)
- Desenvolvimento e análise de modelos animais
Os progressos mais recentes estão relacionados aos itens 4 e 5. O Dr.
Epstein abordou a evolução da produção do modelo animal, que se iniciou
pelos camundongos chamados trissômicos ( totais ou parciais) até chegar
aos atuais transgênicos ( ou YAC- Yeast artificial chromosome), que chegam
ao refinamento de permitirem o estudo de grupos muito pequenos de gens
ou até de 1 gen isoladamente. Abordou as trissomias naturais que existem
em primatas como gorilas, chimpanzés e orangotangos, que não se prestam
aos estudos por problemas na manipulação dos animais. Explicou ainda um
teste chamado de Morris Water Maze, que estuda o aprendizado do camundongo
em labirinto na água. Através deste teste estuda-se o efeito de alguns
gens sobre o comportamento e as funções cerebrais relacionadas ao aprendizado
do camundongo.
Na palestra seguinte o Prof. Michael Petersen, geneticista de Atenas,
falou sobre a origem e mecanismo da aneuploidia cromossica na SD. Ou seja,
seus estudos pesquisam a causa do chamado acidente genético que origina
a SD. Através da análise de alguns marcadores presentes nos cromossomos
maternos pode-se identificar quais as mães que têm maior risco de sofrer
uma não-disjunção do cromossomo 21, que leva a ocorrência da trissomia.
Os estudos ainda são preliminares, mas são um grande passo no sentido
do diagnóstico pré-concepcional, ou seja , poderão permitir futuramente
que uma mãe ou pai saibam ainda antes de gerar um filho qual a probabilidade
de ocorrer uma trissomia do 21 ou de outros cromossomos.O estudo deste
risco genético para a não disjunção do 21 baseia-se na pesquisa da presença
dos genes chamados APOE ( alelo e4) no cromossomo 19 e PS1 ( alelo ivs8)
no cromossomo 14. Outro dado preliminar de seus estudos, para a análise
dos quais pediu muita cautela, é de que mães jovens de filhos com SD teriam
maior risco de desenvolver doença de Alzheimer (DA), bem como o fato de
ter parente próximo com SD seria também fator de risco para DA.
Ainda na manhã do dia 14, o Dr. Ira Lott abordou o tema Doença de Alzheimer
e envelhecimento na SD. Muitos estudos demonstram que cerca 20% dos adultos
com SD desenvolvem DA, embora 100% tenham alterações anatômicas compatíveis
com DA após os 40 anos. Dr. Lott comentou as alterações anatômicas cerebrais
que existem na SD, onde o cérebro é menor, e de certa forma mais simples.
Existe entretanto uma estrutura chamada giro do parahipocampo cujo tamanho
paradoxalmente é maior que o normal nas pessoas com SD.
Um dado importante que está sendo estabelecido em seus estudos é que
a perda da memória olfativa pode ser um sinal precoce de desenvolvimento
de DA. Está também provado que quanto maior o grau de estudo de uma pessoa,
menor a chance de ter DA. Este fato é definido pelos americanos como "use-o
ou perca-o". Dr. Lott confirmou o estudo que demonstra que o cérebro de
uma pessoa com comprometimento intelectual tem um nível de metabolismo
(medido pelo consumo de glicose) maior que de uma pessoa comum. Este processo
de gastar mais energia para realizar uma mesma tarefa estaria envolvido
no processo de envelhecimento precoce que atinge as pessoas com SD.
Na seqüência o Prof. Dr. Jésus Flórez abordou o tema Novas perspectivas
na neurobiologia da SD, como de costume com seu enfoque humanizado de
pai/ profissional. Iniciou destacando alguma perguntas que ainda estão
sem resposta: quais os gens que estando sobrexpressados na SD são responsáveis
pelo comprometimento intelectual? E quantos deles estão ativos em uma
dada pessoa, definindo as diferenças individuais?
Frisou a importância do que chamou de fatores epigenéticos e que determinam
o desenvolvimento de uma pessoa - nutrição, ambiente, educação, etc. Em
sua opinião, os fatores genéticos não são suficientes para programar os
bilhões de conexões neuronais existentes no sistema nervoso. Comentou
ainda sobre o conceito de apoptose, a chamada morte celular programada
que existe no organismo das pessoas, processo que seria aumentado na presença
de radicais livres. Mas de antemão criticou a simplificação de se pretender
modificar este processo com a administração de antioxidantes.
Em sua opinião a questão não é tão simples. Explicou em detalhes a diferença
no processo de formação da cortex cerebral na SD, onde ocorre um atraso
no processo chamado de laminação cortical, ainda durante a formação do
feto. Isto leva a uma diferença na formação das redes neuronais, com conseqüente
processamento de informações auditivas e visuais de forma diferente. Comentou
ainda que o cerebelo , estrutura do cérebro tradicionalmente associada
a funções de equilíbrio, foi recentemente reconhecido como tendo importante
papel nos processos de aprendizado. Ë uma das estruturas que é menor na
pessoa com SD. Em conclusão, comentou que as pessoas com SD tem:
- Áreas reforçadas : personalidade mais afável. Em sua opinião isto
é uma realidade, e não um estereótipo. Destacou ainda a forte vontade
de aprender demostrada pelas pessoas com SD. Comentou que em sua opinião
os conceitos de idade mental e QI são superados para a abordagem de
pessoas com SD.
- Áreas enfraquecidas: principalmente a linguagem
Finalizando, destacou que através do que chamou de "boas práticas educacionais"
muitas barreiras estão sendo trabalhadas e superadas, como: memórias de
curto e longo prazo, habilidades de leitura, escrita, iniciativa, etc.,
com a conseqüente melhora na qualidade de vida das pessoas com SD.
Na parte da tarde do dia 14, houve 2 painéis. Um sobre Citogenética e
epidemiologia da SD, coordenado pelo Prof. Petersen, e outro sobre Abordagem
molecular do cromossomo 21, coordenado pelo Prof. Y. Groner, de Israel.
No primeiro, 4 especialistas apresentaram os seguintes temas: a ocorrência
natural de trissomia 21 por mosaicismo, estudos de não-disjunção de gamelas(
óvulos/espermatozóides), e diagnóstico citogenético pré-concepcional,
já citado anteriormente. Neste assunto o Prof. J. Egozcue, de Barcelona,
explicou detalhadamente a técnica que está sendo desenvolvida para se
diagnosticar antes da concepção, através do estudo de óvulos não fertilizados,
a probabilidade de ocorrência de erros cromossomicos estruturais ou numéricos.
Em sua opinião este tipo de teste permitirá detectar estes erros e será
de utilidade nos casos em que o casal, por razões morais, rejeite a opção
do abortamento.
No segundo foram mostrados estudos e trabalhos que estão mapeando toda
a estrutura do cromossomo 21. 76 gens já estão mapeados, e alguns de seus
nomes são : SOD1 e SOD2, APP, SIM2, NCAM21, PEP19, SH3p17, etc., etc.
Estima-se para mais 3 anos a identificação completa dos cerca de 1.000
gens do cromossomo 21.
Aos dois painéis seguiu-se apresentação de 10 trabalhos relacionados aos
temas.
No sábado pela manhã houve dois painéis: Aspectos clínicos da SD, coordenado
pelo Prof. Flórez, e Estudo molecular da SD, coordenado pelo Prof. S.E.
Antonarakis, da universidade de Genova.
O primeiro iniciou-se com a apresentação do Prof. D. Holtzman , neurologista
da universidade de Washington, que falou em detalhes da relação entre
SD e doença de Alzheimer (DA). Citou que esta relação foi reconhecida
em 1929, e que hoje se sabe que genes dos cromossomos 1, 14, 19 e 21 estão
envolvidos nas diferentes formas de DA. Na seqüência a Profa. Julie Korenberg,
pequisadora, pediatra e especialista em genética molecular da universidade
de Los Angeles falou sobre a compreensão molecular dos defeitos cardíacos
na SD. A grande novidade foi a identificação de dois gens , CHD-1 e CHD-2
( congenital heart disease- doença cardíaca congênita), responsáveis pela
ocorrência da cardiopatia na SD. O CHD-1 expressa-se nos músculos lisos
e cardíaco, e o CHD-2 no cérebro. Estuda-se agora de forma mais detalhada
a forma como estes dois gens agem.
Ainda no primeiro painel o Prof. Lott falou dos avanços neurológicos na
SD. Abordou assuntos relacionados a ocorrência de epilepsia, que citou
ter maior incidência na SD. Falou ainda sobre a instabilidade atlanto-axial.
Questionou, baseado em dados de estudos realizados, a necessidade de se
fazer o screening obrigatório em todas as crianças com SD. Em sua opinião
o RX ou outros exames só estariam indicados em caso de haver sintomas
de alerta como: dor no pescoço, alteração no controle de esfincteres (
urina/ fezes) ou ainda reflexos neurológicos alterados. Abordou ainda
a ocorrência da depressão na SD, e finalizou citando um estudo em andamento
que procurou avaliar a eficácia da intervenção precoce. Os dados preliminares
indicam que a intervenção precoce tem um impacto positivo mensurável e
importante no desenvolvimento da criança com SD.
O segundo painel do sábado pela manhã foi Estudo molecular da SD, dirigido
pelo Prof. Antonarakis. As palestras foram: Definição das regiões críticas-
estudo de trissomias 21 parciais,pelo Prof. Delabar , de Paris Modelos
transgenicos para a SD, pelo Prof. Y.Groner, de Israel e a Neurobiologia
dos modelos da SD, pelo Prof. Holtzman. Aqui mais uma vez foram analisadas
em enfoques detalhados as questões ligadas aos modelos animais, e a estrutura
genética do cromossomo 21.
Aos dois painéis seguiu-se a apresentação dos trabalhos relacionados.
No sábado a tarde houve uma apresentação de um resumo dos 4 grandes painéis,
feita pelos coordenadores, seguida da palestra de encerramento, chamada
"O futuro da pesquisa em SD", feita pelo Prof. Charles Epstein. A palestra
pela sua importância e qualidade merece ser transcrita na íntegra.
"Existe presentemente um sentimento de excitamento e antecipação entre
os pesquisadores interessados e trabalhando com SD. Este campo, como muitos
outros, foi lançado no progresso rapidamente acelerado que está sendo
feito em todos os campos da ciência biológica, que vai desde a biologia
molecular e celular até as muitas facetas da neurobiologia e psicologia.
As ferramentas e conceitos que foram obtidos tornaram possível olhar para
a SD de formas que antes não eram possíveis.
Portanto, como será a pesquisa em SD no século 21? Embora a bola de cristal
e a futurologia sejam perigosos, certas previsões parecem razoáveis baseadas
no que sabemos hoje.
- O mecanismo que causa a aneuploidia parece próximo de ser entendido
melhor, mas uma redução na ocorrência da trissomia do 21 parece mais
difícil de ser alcançada. Infelizmente, pois esta é a verdadeira solução
para a questão da SD. Até o mais ardente defensor do diagnóstico pré-natal
iria preferir a prevenção do que o aborto.
- O cromossomo 21 será completamente mapeado, os genes que se expressam
identificados, e suas funções serão definidas.
- O mapeamento fenotípico da SD será melhorado, e o gen ou genes responsáveis
por muitos componentes do fenótipo, como doença cardíaca congênita,
atresia ou estenose duodenal , comprometimento imunológico, leucemia,
DA, e talvez por algumas das mais sutís diferenças físicas, serão identificados.
- Deficits cognitivos específicos e característicos que distinguem a
SD de outras formas de retardamento mental serão elucidados. Quanto
mais isto se mostre possível, mais razoável será a pesquisa dos gens
que têm maior efeito sobre a cognição. Tais gens serão indubitavelmente
descobertos.
- Há uma razoável probabilidade de se desenvolver terapias farmacológicas
ou de outras formas que irão melhorar, e talvez até prevenir o retardamento
mental e a DA. Devido ao grande número de fatores neurotrópicos, neurotransmissores,
e agentes que alteram a função neuronal e a transmissão sináptica conhecidos,
e de muitos outros que estão próximos de serem descobertos, e dado também
nosso cada vez maior entendimento e habilidade de manipular estes agentes,
não é descabido acreditar que abordagens para melhorar a função intelectual
podem ser divisadas- fazendo com que a estrutura do sistema nervoso
durante a vida fetal tardia e ao nascimento, não predestinem irremediavelmente
a criança com SD ao comprometimento cognitivo.
- Provavelmente não é essencial que se conheça todos os gens do cromossomo
21 antes que terapias racionais possam ser consideradas. O que é de
igual ou talvez maior importância é uma definição do que os deficits
cognitivos da SD realmente são, e quais as alterações neurofisiológicas,
neuroquímicas e neuroanatômicas que as causam. Na medida em que continuamos
aprendendo sobre como o cérebro trabalha, a pesquisa em SD será beneficiária
deste conhecimento e o entendimento do que está atrapalhando a função
do cérebro na SD será obtido. Com este entendimento virão as abordagens
necessárias para corrigir a situação.
A pesquisa em SD no século 21 será centrada em neurobiologia, genética
molecular, psicologia do desenvolvimento, e farmacologia molecular.
Temos motivos para estarmos cheios de esperança. "
O Dr. Epstein falou ainda sobre a pesquisa de células fetais no sangue
materno durante a gestação, como meio de diagnóstico pré-natal da SD ,
e que não acredita que 1 gen isolado seja responsável pelo comprometimento
intelectual . Ressaltou que muitos dos comprometimentos da SD já tem tratamento:
as cardiopatias, hipotireoidismo, problemas gastrointestinais, etc. Restam
o comprometimento intelectual, a hipotonia e a DA. Disse ainda que vê
o futuro com "otimismo contido".
Conclusão:
Da descrição da SD em 1866 por John Langdon Down , até a descoberta pelo
Prof. Lejeune em 1959 do cromossomo extra, foram precisos 93 anos. Mais
15 anos para se chegar à identificação em 1974 por Niebhur da banda patogenética
( região 21q22 ) do cromossomo 21. Desde então, mais 19 anos para se iniciar
o mapeamento do cromossomo 21 , que entretanto poderá estar completo em
apenas mais 3 anos. Muitos progressos foram feitos e estão sendo feitos,
e em velocidade cada vez mais rápida.
O grande Prof. Lejeune, que dedicou toda sua vida a pesquisa humanizada
da SD, falecido há poucos anos, dizia que se vivesse mais 10 anos descobriria
a cura da SD. Esperamos que os atuais cientistas (Prof. Charles Epstein
em particular) possam fazê-lo.
No século 21, a cura da trissomia do 21...
Pelas anotações e transcrição,
Ruy do Amaral Pupo Filho
Médico pediatra e sanitarista
Presidente da Associação Up Down
Membro do Comitê Científico da Federação Brasileira Das Associações de
SD
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